DA UTOPIA EDUCACIONAL À PANDEMIA DOCENTE por Amanda Mauri-Abr/24

Quantos sonhos pode carregar um professor? Quantas expectativas, desejos e aspirações? Educar é um ato de coragem e ousadia que extrapola fronteiras de tempo e espaço, almejando transformações que podem causar impacto na vida das pessoas e na sociedade em geral. Foi cercada por esta atmosfera utópica que me vi despertando como professora, no entanto, as expectativas de ingressar na profissão logo começaram a ceder espaço às incertezas e incompatibilidades presentes no sistema educacional, afinal, na maioria das vezes as demandas sociais não podem ser atendidas exclusivamente por meio da educação.

Imersa nesse universo, comecei a perceber os grandes desafios presentes nas escolas, e mesmo diante da realidade, o desejo de promover uma educação de qualidade era muito forte, principalmente depois de conhecer o livro “Pais brilhantes, professores fascinantes”, escrito pelo renomado psiquiatra Augusto Cury. Além das tradicionais habilidades curriculares, eu senti a grande necessidade de promover o desenvolvimento integral das crianças, de forma que pudessem alcançar, além das habilidades básicas tradicionalmente consolidadas, as múltiplas dimensões que compõem o ser humano.

Já ativa no ambiente escolar, pude conhecer de perto a realidade dos professores e, além de notar a dificuldade para trabalhar as habilidades socioemocionais devido a um déficit na formação docente, percebi também um forte desgaste emocional entre os professores. No ano de 2020, vivendo um período de grandes mudanças no setor educacional em virtude do avanço da pandemia de Covid-19, a preocupação com o bem-estar e a qualidade de vida de quem conduz a educação com as suas próprias mãos tornou-se ainda mais latente.

Nesse momento, resolvi dedicar a minha atenção exclusivamente aos professores, tomando as suas dores e angústias como um obstáculo a ser enfrentado. Não pode ser natural que os profissionais responsáveis por formar os nossos jovens cheguem ao limite de sua sanidade mental para então receberem qualquer tipo de atenção, até porque, como bem prega o Portal Educação Emocional, “professor também é gente”. Assim, após relutar em ideias que pudessem promover a educação socioemocional para as crianças e adolescentes, me certifiquei da urgência de implementar essas habilidades na formação dos professores.

Pensando nessas questões, surgiu então a pesquisa que originou o livro Pandemia Docente. No auge de um período de paralisação das atividades básicas e distanciamento social severo, as questões emocionais foram evidenciadas, causando um sobrecarga ainda maior sobre os professores. Nesse momento, a pandemia causada por um vírus tomou proporções ainda maiores e afetou também a saúde mental de muitos profissionais. Dessa forma, o ensino remoto e suas consequências ocasionaram um abalo significativo entre os professores, mas o que se destaca é que mesmo antes e até depois desse período os professores viveram e ainda vivem situações de alto estresse em virtude do trabalho.

Refletir sobre isso nos faz chegar a um questionamento crucial: será que a problemática da saúde mental entre os educadores realmente foi uma fase durante o período de pandemia, ou trata-se de uma crise permanente? Sob esta ótica, é possível considerar a existência de uma PANDEMIA DOCENTE, um grave problema de saúde mental que atinge não só os professores, mas a todos os profissionais da educação, excedendo os limites do tempo e a distribuição geográfica. No livro, que carrega esse título, são abordadas questões envolvendo a prática docente e as emoções presentes na atuação do professor.

A pesquisa realizada é um convite a todos os profissionais que desejam desenvolver as suas competências emocionais e adquirir maior bem-estar e qualidade de vida, apresentando os principais desafios da rotina do professor e as emoções vivenciadas por esses profissionais. São apresentados também alguns pontos fundamentais associados às emoções humanas e ao desenvolvimento da Inteligência Emocional, informações de grande valia que foram complementas pelas contribuições de um grupo de professoras ao relatarem as suas próprias experiências durante o período de pandemia.

Pensando nas mazelas emocionais vivenciadas pelos docentes, surgiu então uma proposta de formação voltada aos educadores com o intuito de desenvolver habilidades emocionais básicas de acordo com o método RULER, proposto por Mark Brackett, diretor fundador do Centro de Inteligência Emocional da Universidade Yale. Esta é a etapa final do livro Pandemia Docente e propõe exercícios práticos e acessíveis que estimulam, sobretudo, habilidades de reconhecimento, compreensão, rotulação, expressão e regulação das emoções.

Com um prefácio envolvente escrito pela Prof. Mariana Arantes, autora do processo educativo Educação Emocional Integral, o livro Pandemia Docente propõe uma reflexão enriquecedora por meio de discussões e questionamentos envolvendo as condições emocionais dos docentes. Se você defende a educação e deseja lutar por mais esta utopia tão necessária, te convido a se aprofundar nesse debate e se envolver em um processo de autodescoberta enquanto educador, cidadão e ser humano. Assim como um vírus, esse mal também precisa de prevenção. Não deixe de se cuidar, seja agora a sua prioridade.

Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal Educação Emocional. O colunista convidado tem liberdade de expressão.

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