Hoje, na porta da escola que leciono, vi a cena de um pai, repreendendo sua filha de 6 anos pelo choro, isso as 6:50h da manhã.

Fiquei observando, vi que o pai continuava com o mesmo comportamento, e a filha no seu direito de chorar e não querer entrar na escola, então resolvi interferir, e ajudar aquela criança, eu quis ajudar a criança, não o pai que estava super atrasado para o trabalho dele e que repetia que sua paciência com o comportamento da filho havia se esgotado, engole esse choro e entra logo! – foram as palavras dele quando cheguei, abracei a menina e fui conversando com ela até passarmos o portão da escola.

“Obrigado Professora”-  não houve não.

“Até logo, filha” – também não houve não.

“Tenha uma boa aula” – não também.

Será que esse pai, considerou os sentimentos da filha, ou apenas entendeu como um comportamento desafiador!?

Dentro da escola, com a menina em meu colo, fui conversando com ele, e a levei para sua professora de fato, que também a acolheu.

Mas, vamos refletir, tenho 50 anos, sou mãe de 4 e professora de mais de 100. Tenho propriedade para refletir sobre esse assunto.

Crescemos na geração do ´engole o choro´, e até onde eu me lembro, não havia alternativa. Todas as vezes que fui repreendida, eu ouvi essas palavras, engole o choro, sentindo dor ou não, o choro deveria cessar imediatamente.

Não me perguntaram se eu estava com dor, não me perguntaram se eu estava triste, não me perguntaram nem o porquê do choro, pois o adultos coloca no lugar de juiz,  por ele mesmo, e diz: você está chorando à toa.

Vocês também passaram por isso?

Eu sei que passei por isso sim, milhares de vezes, e confesso que com meus filhos maiores, eu fiz a mesma coisa que esse pai fez hoje de manhã, simplesmente ignorei os sentimentos e disse: engole o choro! E foi somente depois que aprendi sobre educação socioemocional que percebi como eu fui maltratada quando criança e a decisão era minha, somente minha, se eu iría continuar esse comportamento com meus filhos ou se eu iría mudar, me esforçar em aprender a ser uma mãe mais acolhedora e consequentemente uma professora mais integradora.

Eu decidi mudar, é claro! Foi fácil, claro que não! Estudei muito e ainda estudo sobre educação socioemocional.

Graças a Deus vivemos em constante evolução e aprendizados, e não dá pra continuar ignorando assuntos que praticamente pulam em nossos olhos.

Um desses assuntos se referem a saúde mental. E apesar de compreendermos o termo terapia, nem sempre percebemos ou praticamos o inverso a fim de consertar nossos erros.

O fato é que cuidar da saúde mental é tão importante quanto cuidar da saúde física, e na mesma dimensão: prevenir doenças físicas com aprendizados sobre exercícios físicos, também deveríamos prevenir desregulação da saúde mental com aprendizados sobre a educação socioemocional.

Simples! Nem tanto….

No site da Organização Mundial da Saúde, está publicado que em 2019, 301 milhões de pessoas, dentre esse número 58 milhões de crianças e adolescentes, sofreram com ansiedade e seus desarranjos. Imaginem esse número hoje, pós pandemia?!

Apesar de tantas informações gratuitas e disponíveis sobre regulação socioemocional, sobre os malefícios da falta de saúde mental, ainda estamos virando em círculos e repetindo os mesmos comportamentos e sofrendo mais e mais.

E a criança? Quem deve ensiná-la? Quem deve mostrar os caminhos da regulação emocional?

Os pais? a escola? a família? a comunidade? a igreja?

Qual a finalidade dessa pergunta? Afinal eu entendo que os genitores ou tutores legais são responsáveis pela formação da criança, você também pensa assim?

Como professora, digo com muito orgulho que também me sinto participante da formação socioemocional de cada aluno que passa por minhas aulas.

Tenho visto uma nebulosa de pais e tutores vagando por aí e transferindo essa responsabilidade para outros.

Por isso deixo aqui uma reflexão:

Que ser humano você está formando? ou mais ainda, que comportamentos e ações você espera de sua criança, agindo da forma que você  age hoje?

Até a próxima …

Elis Honorio

Professora e mãe de 4.

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